"Urmanismo" - Quando a urbanidade não é humana

A vida corre depressa e eu preciso andar... As coisas acontecem tão automaticamente no dia a dia que não conseguimos mais apreciar ínfimos momentos. Não percebemos o privilégio que é o acordar, não sentamos para comer, não percebemos a delícia que é a água escorrendo sobre a pele, o cheiro que o sabonete deixa em nós.

Só olhamos para o céu para reclamar se irá ou não chover. Nas ruas, pessoas apressadas, movimentando-se com suas próprias pernas, ou estáticas, sentadas num veículo, aguardando o trânsito fluir. Ninguém sorri.

Nos prédios, pessoas que se consideram livres estão trancafiadas em seus vícios e em suas obrigações. Há tanto tempo, tantas horas, e mesmo assim não há tempo. Pior é para quem tem a impressão de que há tempo demais.

Inicia-se o dia aguardando pelo seu final, e a lógica se estende para a semana, o mês, o ano. Que vida é essa? Anoitece diariamente e ainda há pessoas que não conhecem os lindos e coloridos desenhos que se formam no céu a essa hora. As primeiras estrelas começam a aparecer no céu urbano, lutando contra o alaranjado do tungstênio e, mais uma vez, as pessoas não conseguem RESPIRAR. É mais dor, mais estresse, mais luzes de freios acesas, são menos sinais de que a vida é bela.

O sábio rei estava certo: tudo é vaidade. Tudo é por dinheiro. Irônico, pois não há recursos humanos que possam comprar o que é essencial: a paz de espírito, a alegria plena, a saúde constante... O que precisará acontecer para o mundo ser menos urbano e mais humano; menos dependente, mais subsistente; menos regrado, mais harmonizado?

Este é um olhar de quem, em plena juventude, sente-se velha, sente-se já tão frustrada e talvez incapaz de realizar os seus sonhos por completo. Este é o olhar de quem ainda sente medo do imprevisível, de quem não se conforma com a morte, mesmo acreditando que esta seja a passagem necessária e inevitável para algo (quem sabe até) melhor. Este é o olhar de quem está cansada e não pode parar. É uma revolta silenciosa que escapa em lágrimas. Uma bússola desnorteada.

Estes são os pensamentos de quem não sabe ser sozinha, mas não sabe fazer a sua companhia mais feliz. Alguém que, mesmo sendo tão simples, não para de buscar mais, sempre mais, consciente de que jamais irá ter seus desejos completamente satisfeitos. Alguém que quer tanto mudar, mas também gostaria de ver as boas mudanças acontecer ao seu redor e na sua própria vida. 

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!!! Penso da mesma forma.

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