(...) os pensamentos postos em papel não passam, em geral, de um vestígio deixado na areia por um passante: vê-se bem o caminho que ele tomou, mas para saber o que ele viu durante o caminho é preciso usar os próprios olhos.
[...]
Ocorre na literatura o mesmo que na vida: para onde quer que alguém se volte, depara-se logo com o incorrigível vulgo da humanidade, que se encontra por toda parte em legiões, enchendo e sujando tudo, como as moscas no verão.
[...]
Para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim, pois a vida é curta, o tempo e a energia são limitados.
[...]
Exigir que alguém tivesse guardado tudo aquilo que já leu é o mesmo que exigir que ele ainda carregasse tudo aquilo que já comeu. Ele viveu do alimento corporalmente e do que leu, espiritualmente, e foi assim que se tornou o que é. Mas da mesma maneira que o corpo assimila o que lhe é homogêneo, o espírito guarda o que lhe interessa, ou seja, o que diz respeito a seu sistema de pensamentos ou o que se adapta a suas finalidades.
[...]
(...) [A repetição é a mãe do estudo]. Cada livro importante deve ser lido, de imediato, duas vezes, em parte porque as coisas são melhor compreendidas na segunda vez, em seu contexto, e o início é entendido corretamente quando se conhece o final; em parte porque, na segunda vez, cada passagem é acompanhada com outra disposição e com outro humor, diferentes dos da primeira, de modo que a impressão se altera como quando um objeto é observado sob uma luz diversa.
[...]
Há duas histórias: a política e a da literatura e da arte. A primeira é a história da vontade, a segunda, a do intelecto. É por isso que a primeira geralmente é angustiante, mesmo terrível: medo necessidade, engano, e assassinatos horríveis, em massa. A outra, em contrapartida, é agradável e jovial, assim como o intelecto isolado, mesmo quando descreve erros e descaminhos.
[...]
Recortes do livro A arte de escrever, de Arthur Schopenhauer.
Releeia as postagens anteriores:
- Sobre a erudição e os eruditos
- Pensar por si mesmo
- Sobre a escrita e o estilo (Parte I)
- Sobre a escrita e o estilo (Parte II)
- Sobre a erudição e os eruditos
- Pensar por si mesmo
- Sobre a escrita e o estilo (Parte I)
- Sobre a escrita e o estilo (Parte II)
0 comentários:
Postar um comentário