*Para assegurar a atenção e o interesse permanentes do público, é preciso escrever algo que tenha valor permanente, ou então escrever sempre algo novo, que justamente por isso acabará sendo cada vez pior.
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O título [de uma obra] deve ser significativo e, como é constitutivamente curto, deve ser conciso, lacônico, expressivo, se possível um monograma do conteúdo.
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O que torna um homem capaz de conversar bem é a compreensão, o critério, o humor e a vivacidade que dão à conversação sua forma. Mas logo em seguida entra em consideração a matéria da conversa, portanto aquilo sobre o que se pode falar com determinada pessoa, seus conhecimentos. (...) mais sábio o ignorante em sua casa do que o sábio na casa alheia.
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A vida autêntica de um pensamento dura até ele chegue ao ponto em que faz fronteira com as palavras: ali se petrifica, e a partir de então está morto, entretanto é indestrutível, (...).
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As cabeças triviais se esforçam ardentemente para se apropriar de tal noção [fundamental falsa] e exercitar tal modo [modo falso de se expressar]. O homem inteligente reconhece e despreza essas coisas, permanecendo fora de moda.
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Se nada parece ruim a alguém, também nada lhe parece bom.
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Riemer tem toda razão quando, em sua "Comunicação sobre Goethe", p.XXIX do prefácio, diz: 'Um adversário que mostra sua cara abertamente é uma pessoa honrada, moderada, com a qual é possível se entender, chegar a um acordo, a uma reconciliação; em compensação, um adversário escondido é um patife covarde e infame, que não tem a coragem de assumir seus julgamentos, portanto alguém que não defende sua opinião, mas se interessa apenas pelo prazer secreto que sente em descarregar sua ira sem ser reconhecido nem sofrer retaliações'. (...) cada um que declara algo publicamente, por meio do porta-voz de longo alcance que é a imprensa, seria responsabilizado ao menos com sua honra, caso ainda possuísse alguma; se não possuísse, seu nome neutralizaria o seu discurso. Usar o anonimato para atacar pessoas que não escreveram anonimamente é evidentemente desonroso.
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O estilo [linguístico] é a fisionomia do espírito. E ela é menos enganosa do que a do corpo. (...) Devemos descobrir os erros estilísticos nos escritos para evitá-los nos nossos.
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Eulenspigel deu, ao passante que lhe perguntava quanto tempo demoraria para chegar na próxima vila, uma resposta aparentemente absurda, dizendo 'Ande!', com intenção de medir a partir de seu passo o tempo que ele levaria.* Da mesma maneira, leio algumas páginas de um autor e então já sei mais ou menos até onde ele pode me levar.
*Till Eulenspigel é um personagem burlesco da literatura popular alemã.
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Não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significaivos de modo que todos os compreendam. (...) O saber é o princípio e a fonte para se escrever bem.*
*Horácio, Arte poética, 309.
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Um autor deveria (...) evitar acima de tudo o esforço de demonstrar mais talento do que de fato tem, porque isso desperta no leitor a desconfiança de que ele possui muito pouco, uma vez que só finge ter algo que realmente não se tem.
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Em geral, a ingenuidade atrai, enquanto a artificialidade repulsa.
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É do pensamento que o estilo recebe a beleza, e não o contrário, como ocorre naqueles pseudopensadores que buscam tornar seus pensamentos belos com o auxílio do estilo. Em todo caso, o estilo não passa da silhueta do pensamento: escrever mal, ou de modo obscuro, significa pensar de modo confuso e indistinto.
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Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito. Assim, quem precisa usar os artifícios mencionados antes revela sua pobreza de pensamentos, de espírito e de conhecimento.
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Um bom escritor, rico em pensamentos, conquista de imediato entre seus leitores o crédito de ser alguém que, a sério, realmente tem algo a dizer quando se manifesta; é essa atitude que dá ao leitor esclarecido a paciência de segui-lo com atenção. Justamente porque tem algo a dizer, tal escritor se expressará sempre da maneira mais simples e precisa, uma vez que pretende despertar no leitor exatamente o pensamento que tem naquele momento, e nenhum outro.
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Meu pensamento se abre e se expõe em plena luz,
E meu verso, mal ou bem, diz sempre alguma coisa;
Boileau
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Seria possível atribuir a falta de espírito e o caráter entediante dos escritos das mentes triviais ao fato de elas sempre falarem sabendo as coisas pela metade, isto é, elas não entendem propriamente o sentido de suas próprias palavras, pois se trata de algo que foi aprendido e recebido já pronto; por isso utilizam, mais que palavras, frases inteiras repetidas (phrases banales).
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Pessoas de talento, por sua vez, dirigem-se realmente a nós em seus escritos, e por isso são capazes de nos animar e entreter: apenas elas combinam as palavras com plena consciência, com critério e intenção.
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Recortes do livro A arte de escrever, de Arthur Schopenhauer
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