Nota:
Esta história foi criada a partir de uma brincadeira. Eu e meu marido escrevemos, cada um, as 40 palavras que vinham à nossa mente na noite de ontem... Queríamos testar a nossa sintonia. Ok... Tivemos apenas uma palavra em comum, mas, para estimular a criatividade, exercitar a construção em grupo - e passar o tempo - tivemos a ideia de construir um texto com todas aquelas 80 palavras. Sorteamos a ordem em que cada papel, com10 palavras em cada, iria ser usado. Teria que ser na ordem e da forma que estavam escritas. Levou quatro horas até o último ponto final, pois o texto precisava ter coerência e coesão, e as palavras eram bem distintas (estão marcadas em negrito no texto). Bom, o resultado está aí! Espero que gostem.
O pobre poeta e a bela sonhadora
Texto, conjunto
de palavras montado com a mão,
através de um lápis constrói-se um poema. Por esta escrita chega até aquela casa o pão. Naquele tempo não havia comidas rápidas e artificiais, como o macarrão instantâneo que você conhece.
Tudo era preparado com carinho, num forno a lenha.
O hábito de escrever foi influência do seu pai, que tomou a decisão de viver uma vida diferente. Ele seguiu os passos do pai, e
tão bela quanto uma flor era a motivação que esbraveja no íntimo daquele poeta. O seu falar nunca iriam ouvir, pensava, mas
com muita garra seguiu em frente,
pois seu amor sempre atrevido pela poesia, nunca se esvaíra.
Ele era pacato, pobre, porém, tinha esperança. A sua grande
paixão morava em frente à sua casa. Sonhava em presenteá-la com um anel, que representaria a aliança dessa união. Mas ela nunca
demonstrava interesse por ele, pois, puxando uma carroça e vendendo seus poemas ele vivia. Trabalho duro, que o fez
machucar suas mãos e seus dedos.
Ela sonhava em ser princesa, viver como uma rainha de Nárnia. Observar do seu castelo o seu
enorme rebanho de ovelhas e o orvalho. Não queria levar uma vida de trabalho árduo. Sua caneta de pena mergulhada numa tinta de
cor azul, tão vibrante como o céu do
seu reino de fantasia. Seus pensamentos e sentimentos complexos, nem os mais
profundos conhecimentos da psicologia
poderiam compreender e nem o mais completo dos livros de história se aproximavam da beleza
e da grandeza de detalhes da sua imaginação.
Subindo e descendo as ruas não faltava o gás ao pobre poeta. Estava sempre
acompanhado do seu amigo fiel, um cachorro
que o seguia para todos os lados desde a sua infância. Para chamar a atenção
das pessoas, recitava com toda força de seu diafragma os poemas que escrevia. Vez ou outra a porta de uma casa se abria, vendia um de seus
folhetos escritos à mão e recebia em troca algum dinheiro, não era muito, mas sempre olhava para o céu e agradecia a
Deus. De pouco em pouco fazia suas
economias, esperando que lhe dessem o sustento suficiente para pedir a bela
sonhadora em casamento.
Ao final do dia, voltando para casa, percebeu que sua amada,
debruçada sobre a mesa, que ficava
junto à janela, escrevia com sua caneta de pena, sentada numa cadeira talhada de flores de cerejeira.
Numa visão, a casa desaparecia, só estava ela num gramado florido que se misturava à madeira talhada de sua cadeira.
No ar ela escrevia com a sua pena doces palavras, as quais ele reunia – nascia
mais uma poesia. Perdeu as contas de
quantas horas passou observando sua musa inspiradora.
De tanto escrever sobre seu reino encantado, a bela
sonhadora adormeceu. Num trágico pesadelo, um forte furacão invadia o seu reino. Ela se viu frágil, sozinha, precisava
de uma companhia, não um protetor para impedir o furacão, mas alguém que lhe
fizesse um gesto simples, como
oferecer um ombro para chorar, um braço disposto a ajudá-la a construir tudo
outra vez.
Enquanto isso, ele varava a madrugada, não parava de lembrar-se
da visão que teve e do poema tão forte, original e intenso que acabara de criar.
Já não declamava, ele o cantava emocionado, como se estivesse embalado por uma
banda de jazz, no ponto mais alto do
show. Talvez sua intenção fosse fazer sua bela, mesmo em outra dimensão, ouvir aquela canção.
Já amanhecia e os raios do sol penetravam suavemente as
folhas da árvore que ficava em
frente à casa do poeta. Ela acordou daquele pesadelo e, olhando pela janela, o
viu inebriado em suas melodias e atentou para o que ele dizia. Eram as palavras
mais lindas que ela já tinha ouvido. Era como se o seu reino estivesse sendo
reconstruído, ou construído pela primeira vez, a cada verso por ele declamado.
Ela foi até a cozinha, pôs água para ferver numa panela para fazer um café. Reuniu algumas
frutas e colocando pressão, com suas
mãos tirou suco de um limão para
fazer uma torta, uma deliciosa torta para o final da tarde. Decorou a mesa com uvas, limpou uma garrafa de vinho, que estava empoeirada na adega.
Se à noite fizesse frio, a garrafa da bebida quente estaria preparada. Foi até o
jardim, colheu uma flor cor de laranja
e a colocou num vaso sobre a mesa. Ela era sozinha, seus pais haviam morrido e
seu irmão mais velho tinha acabado
de se casar. Lembrou-se do sonho da
noite passada e inquieta, por mais uma vez acordar e ter que lidar com a sua
realidade, que era bem distante do seu reino de fantasia, pensou que talvez uma
viagem pudesse lhe dar um novo ânimo
de vida, ou ela poderia adotar um animal, não importaria o sexo, macho ou fêmea, seria seu companheiro e preencheria o vazio
daquela casa. A segunda opção parecia mais simples, mas não tinha a mesma mágica que a primeira aparentava ter.
O pobre poeta, depois daquela noite intensa, estava exausto,
mas precisava sair para vender seus poemas. Seu amigo cão já o puxava pela aba
da calça, apressando-o. Pegou sua carroça, abriu o portão e já começou a
declamar seus poemas. Ao ouvir a voz que a amparou naquela madrugada, ao
acordar do pesadelo, a bela sonhadora arrumou o cabelo, espanou a poeira de sua roupa e correu para rua para ver de perto de onde vinham aqueles
doces versos.
Ele empurrava sua carroça rua abaixo, não estava acreditando
que aquela linda mulher, que
inspirava seus versos, estava ali parada, prestando atenção ao que ele falava.
Ficou tímido, abaixou a voz, tentou disfarçar, mas não conseguiu. No mesmo
instante, ele foi surpreendido por um pedido, ela implorou que ele não parasse.
E ele não parou, de verso em verso, leu todos os poemas que carregava consigo.
Várias pessoas que por ali passavam, paravam para admirar a beleza daqueles
poemas e neste dia ele vendeu todos os seus folhetos. Quando já não havia mais
o que ler, ele olhava para ela e novos versos surgiam. E assim foi o final da
manhã e a tarde.
Quando ela percebeu que as pessoas se dispersavam, notou que
o sol já se despedia, dando lugar à lua e às estrelas. Entendeu que naqueles
versos ela estava contemplando todo encanto do reino que tanto sonhara. E num
ato de coragem, mesmo um pouco constrangida, convidou aquele pobre – agora
nobre – poeta para um jantar. Ele
imediatamente aceitou. Correu para casa, tomou um banho, perfumou-se, vestiu
sua melhor camisa, se olhou no espelho e comentou com seu cão
companheiro que, talvez, se ele tivesse fama
e dinheiro ela teria o olhado mais cedo. Mas sua imagem no espelho
transformou-se numa fotografia: ele
viu um homem rico e ao seu redor muitos bajuladores, mas a sua musa não estava
lá. Voltou-se novamente para o cão e comentou que, se ele não fosse quem ele é
jamais a teria conhecido e não teria a inspiração principal para os seus
versos.
A bela sonhadora vestiu seu lindo vestido violeta, parecia uma princesa
aguardando o seu príncipe. Enquanto ele não chegava, foi até a sua mesa e
começou a ler seus escritos. Refletindo, como se usasse um filtro de sonhos, viu um filme
passar em sua mente - estava num lugar lindo, à beira de um mar, deslumbrante
como o recortado e brilhante litoral da Califórnia.
Sentiu que havia alguém caminhando ao seu lado e por esse alguém ela tinha uma
profunda admiração. Ela agora podia
compartilhar mais do que fantasia, havia uma verdadeira alegria e assim
sentia-se completa, o que não acontecia com frequência.
Finalmente ele chegou, conversaram e, com um bom jogo de palavras, conheceram-se um
pouco mais e foram descobrindo anseios em comum e os sentimentos que tinham um
pelo outro foram crescendo cada vez mais, como cresce uma bola de neve. Ela o serviu do melhor vinho que possuía,
deliciaram-se com o jantar quentinho que ela preparou, o qual caiu como uma luva, pois o tempo já esfriara lá fora.
Passaram a se encontrar diariamente, logo após o pôr do sol.
Começaram a escrever juntos e suas histórias faziam muito sucesso na cidade. O
tempo passou e eles perceberam que precisavam cada dia mais um do outro.
Casaram-se e constituíram um reino único, onde não eram necessários castelos,
cavaleiros e princesas, mas os protagonistas dessa história, além dos dois,
eram os sentimentos recíprocos que ambos cultivaram, mesmo após muitos e muitos
anos juntos. Do núcleo celular dessa
família vieram filhos. Na mesa, agora, havia livros, rabiscos e brinquedos. As decisões da família vinham
de um consentimento de todos, pois viviam em harmonia. O nobre poeta e a sua
bela, não eram mais um par,
tornaram-se uma família ímpar. Ela,
não mais uma sonhadora, pois o seu sonho fez-se realidade. Estava estampada em
sua cara como vivia feliz. Eram um nobre rei e a sua rainha, mesmo sem coroas.
Alisson e Lívia Valença
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