IV - O esconderijo
Que cheirinho delicioso de chuva! Ele se junta ao agradável aroma de chá que vem da cozinha, fazendo uma combinação perfeita, e o clima fica bucólico, nem parece que estou na cidade. Esse friozinho, atípico na primavera, faz-me recolher para refletir. Aliás houve, em todas as estações deste ano, acontecimentos atípicos. Foi um ano de mudança, ou melhor, das mudanças, dos descobrimentos, de passos ousados e de superações. Foi um ano de desprendimentos dolorosos e inesperados.
Porém, ninguém sabe disso, mas foi neste ano que encontrei, dentro do meu quarto, uma passagem secreta. Que emoção foi descobrí-la! Ela me leva para um lugar que denomino de "Esconderijo do Altíssimo". A passagem é bem estreita (talvez por isso eu não tenha a visto antes) e só consigo passar para lá me ajoelhando...
Lá há uma sombra gostosa que me faz descansar. Lá derramo minha lágrimas, leio livros, escrevo, falo ou canto milhares de palavras sinceras. Lá tenho consolo e paz e de lá retorno renovada, fortalecida e, por diversas vezes, surpreendida. Lá eu tenho coragem de encarar as verdades que doem. Sempre que estou de olhos fechados sinto a presença amorosa de mais alguém neste lugar. Ele vem até mim, posso tocar os seus pés; às vezes ele segura forte as minhas duas mãos, como um grande amigo, mas às vezes me dá a oportunidade de lançar-me em seus braços, como um pai protetor, e neles permaneço calada, recebendo seu afago, seu consolo.
Há uma brisa fria e suave entrando pela minha janela agora. Ela desliza por minhas costas cansadas. A noite já está quase virando madrugada e os muitos pensamentos que cavalgam em minha mente chegam a quebrar esse silêncio agudo que se faz aqui.
Termino o meu chá, assim como termino mais um dia. É hora de correr para lá (isso me lembra tanto o querido C.S. Lewis...), quando voltar será hora de dormir, de mergulhar em outro misterioso mundo - o dos sonhos, até que no seu horizonte amanheça um novo dia...
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