Texto opinativo escrito em agosto/2009

Hoje no Coliseu brasileiro: Globo X Record

Gladiadores: homens treinados para lutar e entreter os habitantes da Roma Antiga. O combate entre gladiadores terminava quando um deles morria ou ficava ferido com impossibilidade de continuar a luta. Os gladiadores mais bem sucedidos ganhavam, além da popularidade, muito dinheiro e, com o tempo, podiam largar a carreira de forma honrosa.

Ora essa, se não é a história se repetindo! De forma mais moderna, claro, e sem a violência física, mas nas mesmas proporções e com as mesmas intenções: vencer, conquistar o público e, consequentemente, encher seus bolsos e liderar enquanto heróis.

Temos Igreja e Estado bem separados. Um segue a Bíblia e seus ensinamentos, o outro segue a Constituição e suas orientações. As pessoas seguem o que elas quiserem, lêem o que quiserem, assistem o que quiserem. O que falta à nossa mídia é um pouco de respeito ao telespectador.

Preconceitos à parte, a Globo pratica, sim, a perseguição religiosa. Analise bem: as únicas entidades religiosas que ela se dedica a investigar vorazmente são as evangélicas, sobretudo as que seguem a “teologia da prosperidade”, que falam abertamente de dinheiro – o que parece ser um pecado – e entram com tudo nos meios de comunicação, abalando audiências, antes inquestionáveis. Não são apenas os católicos e espíritas que realizam atos de solidariedade e fé, nem são apenas as religiões afro que manifestam seu fervor. Até as religiões mais complexas que vêm do Oriente conquistam seu espaço na telinha brasileira e ganham seguidores! Onde está o espaço para comunicar a alegria, as boas obras, os eventos e o dia-a-dia do povo evangélico, de qualquer denominação, que depositam voluntariamente seu dízimo, seu tempo, sua fé nessas igrejas? Se não há espaço nas grandes redes, qual o problema em eles encontrarem seu próprio espaço para divulgar sua fé? Vivemos numa democracia! Obedecendo as regras de concessão, qual o problema, não é mesmo?

A Globo acha que pode enganar quando coloca apenas nomes, como fez em sua reportagem César Menezes: “Gláucio Verdi, realizou doações substanciais à igreja e presenciou pastores afirmando que somente através de doações os fiéis seriam abençoados. A Edson Luiz de Melo, portador de enfermidade mental, eram feitas promessas em troca de doações financeiras e dízimo. Teria sido vendida a Edson Luiz, por exemplo, a chave do céu.” O repórter apenas menciona, mas não mostra tais personagens nem à contra-luz. Onde está a credibilidade? A reportagem ainda revela quantias em dinheiro altíssimas. Quem teve acesso a isso? Quem contou? Era segredo de Justiça, não era? Sem contar nas contradições: como construir e manter templos pomposos e suntuosos em todo Brasil e em 174 países e ainda manter obras assistenciais, salários de obreiros se o dinheiro é desviado ou usado para enriquecimento dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus? Casos a se pensar, não acham?

Enquanto isso a Record tenta deletar da mente das pessoas as expressões utilizadas de forma infeliz pelo bispo Edir Macedo, ao ensinar seus pastores a pedir dinheiro, ou acha que pode fingir que não há processos tramitando na Justiça, mostrando ao público todos os “podres” de sua concorrente.

Ambas estão recorrendo a arquivos, imagens, documentos antigos para usar como armas nos seus confrontos. Uma por não saber apresentar provas concretas, outra por não saber onde atacar exatamente o “monopólio da comunicação”. A grande diferença entre nós e os romanos antigos é que não estamos nem um pouco contentes com os insultos mútuos. Será que isso nos acrescenta em alguma coisa? Será que é este tipo de conteúdo que queremos ver?

É o “jornalismo de qualidade” (tendencioso e sensacionalista da Globo) versus o “jornalismo verdade” (crítico e empenhado da Record). Nenhum é o mocinho da história, talvez os dois sejam violões, afinal de contas, ambos querem possuir a hegemonia na comunicação, impondo seus conteúdos, seus pontos de vista, moldando a sociedade brasileira cada um à sua maneira. Então, quando começar a luta desses gladiadores, por favor, desliguem o Coliseu brasileiro – a TV, e consumam um conteúdo mais proveitoso de outra fonte. Nenhuma forma de desrespeito e baixaria merece a audiência desta nação emergente econômica e intelectualmente.

Lívia Cajueiro

0 comentários:

Postar um comentário