Segundos

É impressionante a quantidade de reações e pensamentos que nascem e cabem em segundos. São como bolhas estourando num caldeirão fervilhante.

Vejo-te ao longe, o coração dispara, sufoca minha respiração e minha vista escurece. Continuo a caminhar, apresso o passo e penso alto: “Ai, meu Deus, é ele!” Vou então em busca do meu eu – queria testar minha resistência.

Estamos cara a cara e você diz: “Mas que coincidência, não?” Eu concordo e, percebendo a minha fraqueza, continuo a caminhar. Você, com um sorriso debochado no rosto, estranha a minha falta de simpatia, pois jura que somos amissícimos, e codifica seus pensamentos em palavras: “É assim? Vai embora mesmo?” Eu me calo. Paro. Respiro fundo e minha cabeça começa a maquinar (meu coração já estava quase saindo pela boca e eu precisava disfarçar isso): não iria abraçá-lo, pois notaria meu coração acelerado, logo cuidei para manter distância; não tocaria em você, pois não queria tomar iniciativas (é a sua hora de fazer isso).

Você nota um defeito em meu rosto... Foi a primeira coisa que lhe ocorreu para prolongar aqueles minutos. Péssima escolha, não? Tive vontade de perguntar se não queria me levar para um lugar mais reservado para conversarmos, mas logo lembrei de que você não tem mais nada para conversar comigo que seja do meu real interesse e que inventaria qualquer desculpa relacionada a falta de tempo. Finalmente decido ir embora e digo, secamente: “Tchau...” Qual a sua reação? Responder como se não detivesse o controle da situação (ainda com o mesmo sorriso debochado, assistindo em front row ao meu sofrimento): “Tchau!”, foi o que ouvi.

Foi aí que me ocorreram dezenas de vontades incoerentes: replicar o seu “tchau”; soltar a mão em seu rosto (leia-se: dar um tapa) pela sua falta de atitude mais uma vez; voar em seu pescoço e sapecar um beijo em sua boca; dizer que te amo; dizer que não aguento mais ficar sem você; dizer que você é um cretino, idiota, imbecil por estar acabando com a gente e brincando comigo; sair correndo dali... E foi o que fiz, mas não corri, só andei calmamente, olhando para o meu caminho, sem olhar para trás, imaginando se você ainda estava olhando para mim com aquele sorriso cínico, irônico.

E aí foi esperar quinze minutos até que o trem viesse, agarrada à minha bolsa, tendo a inútil esperança que você ligasse para o meu aparelho celular e que essa ligação fosse um sinal de arrependimento, dizendo que eu ficasse onde eu estava, pois você estava voltando para falar comigo. Quem é o real cretino, idiota, imbecil da história? Eu, claro!

Da estação do trem ainda vi você ao longe, por um segundo. Você caminhava apressadamente com seus passos saltitantes em direção ao portão do seu prédio. Reprimi sentimentos de raiva e tristeza. Engoli o choro. O diálogo interior resistiu ao imprensado do trem e durou até chegar em casa, quando entrei em meu quarto e desabei em lágrimas, tentando explicar para Deus tudo o que eu não aguentava mais. Senti raiva de mim por todas as reações que eu não esperava ter tido. Depois disso procurei no telefone uma voz que me acalma, mas que naquele momento, como em tantos outros, não me atendeu... Mais uma de minhas ilusões, mas uma de minhas bandagens substitutas de cirurgias...

E aqui em meu quarto, onde estou agora, com meus olhos inchados e avermelhados, lembro-me das sábias palavras que a amiga Cora Linna Monteiro me escreveu hoje, as quais queria que já fossem minha realidade:

“Aprendi a duras penas a hora certa de parar.

Aprendi a diferença entre amar alguém (e não ter vergonha de ir atrás desse alguém, não me apegar às convenções, ao que pode - ou não, ao que já foi estabelecido sabe-se lá por quem, a fazer o que o meu coração pede e pronto) e a me amar.

Aprendi que não quero restabelecer relação com alguém depois de ter dado tantas piruetas a ponto de durante a relação me sentir superior por ter feito tanto mais para que estivéssemos juntos outra vez... Porque isso acontece, ah, se acontece. Ou então, nesse embalo completamente focado em "voltar, voltar, voltaaar", me esquecer de que têm certas coisas que mais afastam do que aproximam; nesse mundo, a gente mal consegue carregar a gente, que quando a gente se declara assim, tão dependente de alguém, isso assusta. Por mais que a pessoa queira. Inclusive, isso é um ótimo medidor: de covardia pra um lado e de amor próprio para o outro.

Sou a favor do que tiver que ser feito, sou a favor do amor SEMPRE, sou a favor do ir atrás, sou a favor de pedir perdão, sou a favor principalmente de encontrar o seu limite.

E se você está cansada, amiga, por mais que doa, e seja triste, é hora de parar, entregar para a vida e deixar ser...”


É... Cansei! É hora de parar. Seja o que Deus quiser, desde que ele não me queira só...

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